sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Tudo sobre Tio Patinhas



Criação: Foi em um longínquo dezembro de 1947 que o desenhista Carl Barks inspirou-se em Ebenezer Scrooge - um milionário avarento que acaba descobrindo ter um bom coração na peça “Um Conto de Natal”, de Charles Dickens – para criar Scrooge Mac Duck (no Brasil, Patinhas Mac Patinhas)
Inicialmente, Patinhas foi idealizado como um personagem escada para o Pato Donald – a ideia de Barks (apelidado de Homem dos Patos pelas inúmeras criações envolvendo os patos da Disney) era usar a figura de um tio para aprofundar diferentes aspectos da personalidade do pato nervosinho. O tio, porém, logo se mostrou um diamante bruto, que Barks tratou de lapidar com seu talento inigualável.
O personagem apareceu pela primeira vez como um parente rico e avarento que resolve testar a coragem do sobrinho Donald mandando-o passar o Natal em uma cabana de sua propriedade, em um lugar inóspito no meio da neve e à mercê de ursos. O ricaço queria pregar uma peça no sobrinho, mas em decorrência de uma série de enganos, acaba por achá-lo corajoso e digno de sua confiança.
Pouco depois, Barks criaria a história O Segredo do Castelo, primeira a ser publicada no Brasil com o personagem, em 1950, no número um da revista Pato Donald. Nesta segunda história, o Homem dos Patos começaria a trabalhar melhor a personalidade do magnata, que aqui foi chamado inicialmente de patinhas Mac Anjo, bem como a dar pistas de sua família e do que passou para conquistar seus fantastilhões de patacas.
Sempre avarento, mas ao mesmo tempo capaz de atos de extrema generosidade (como dar uma fortuna em pepitas de ouro a uma ex-namorada ou gastar rios de dinheiro para garantir a sobrevivência de um povo do deserto), Patinhas rapidamente conquistou fãs em todo mundo.
Ao mesmo tempo em que explorava a mesquinhez do pato, Barks revelava que a paixão dele por dinheiro vinha do trabalho e das aventuras de toda uma vida para se sustentar. O prazer de patinhas era nadar em sua moedas e, em vez de gastá-las, recordar como acumulara cada uma.
Ao mesmo tempo, o tio levava os sobrinhos para fantásticas aventuras em  terras distantes, descobria civilizações consideradas extintas ou lendárias, segredos desconhecidos do resto do mundo. Também fazia de tudo para economizar e testar qual de seus herdeiros era mais capaz de sucedê-lo (Huguinho Zezinho e Luisinho venceram a parada) e, em outra vertente, defendia sua Caixa-Forte e sua moeda número um de vilões maravilhosos inventados por Barks: os Irmãos Metralha, Maga Patalógika, Porcolino Leitão. E mais: concorria com ricaços (Patacôncio e Mac Money, entre outros), que diferentemente dele eram desleais em tudo, para ver quem era o melhor dos negócios.
A linha de histórias criada por Barks ora ressaltava o trabalho duro de Patinhas comoselfmadeduck, ora mostrava que dinheiro não era tudo – seja por meio das lições de moral sofridas pelo tio quando ele se tornava ganancioso demais, seja pelas revelações que o coração do velho pato era o que realmente valia ouro.
Ainda assim, nos anos 70, uma dupla de intelectualóides radicais de esquerda - o chileno Ariel Dorfman e o belga Armand Mattelard - diria no livro Para ler o Pato Donald que ele era o símbolo máximo do capitalismo, que passava mensagens subliminares do Imperialismo às mentes pueris das crianças. A obra era propositadamente intolerante e analisava os personagens a partir de uma pequena amostra de HQs, boa parte delas com balões de diálogo distorcidos para encaixarem-se nas opiniões dos autores (os originais eram apagados e se escrevia, muitas vezes a mão, frases nunca ditas por Patinhas e companhia).
Em tempo: na internet é possível encontrar muitas referências e análises do livro infeliz(lançado no Brasil em 1980 pela Editora Terra e Paz). Para os interessados em uma análise séria e coerente dos quadrinhos Disney, porém, recomenda-se Para reler os quadrinhos Disney, do professor brasileiro Roberto Elísio dos Santos (Editora Paulinas, 2002).
Alheio a teorias da conspiração e ideologias políticas, Scrooge Mac Duck, ou melhor, Tio Patinhas tornou-se um dos mais populares personagens da Disney em todo o planeta. A dubiedade do personagem que, de quando em quando, mostrava ter um coração generoso, mas ao mesmo tempo era capaz de explorar financeiramente os próprios sobrinhos, nunca incomodou Barks.
“Eu acho que todo mundo deve ser capaz de subir (socialmente) tão alto quanto puder ou quiser, desde que não mate ninguém nem oprima outras pessoas no caminho. Um pouquinho de exploração é algo natural”, dizia o cartunista que morreu aos 99 anos e criou mais de 500 histórias para a Disney – sem ter enriquecido com isso.
 
Enredo: Patinhas Mac Patinhas é um pato escocês que nasceu em uma família originalmente nobre, mas que perdeu praticamente tudo o que tinha. Desde pequeno foi obrigado a trabalhar para sustentar os pais, irmãs e até um tio. Durante a juventude e a maturidade percorreu o mundo em aventuras tentando enriquecer, o que conseguiu. Ao envelhecer, afastado d família, o milionário torna-se um recluso até que descobre o sobrinho Donald e os sobrinho-netos Huguinho, Zezinho e Luisinho. De maneira relutante e desconfiada, o pato se aproxima deles e descobre novamente a vontade de viver.
Dono de uma imensa caixa-forte onde guarda seus fantastilhões de patacas, o pato faz de tudo para aumentar seu império – o que inclui aventuras maravilhosas de caça a tesouros lendários ao lado dos sobrinhos – ao mesmo tempo em que economiza cada tostão, seja filando bóia na casa dos parentes, lendo jornais no parque ou inventando truques para conseguir uma xícara de café de graça.
Patinhas também gasta boa parte do tempo defendendo e inventando formas de manter seu dinheiro a salvo de bandidos  - e da bruxa Maga Patalógika, que quer a todo custo roubar a primeira moeda do milionário para transformar em um poderoso amuleto.
Para saber mais sobre o pato mais rico do mundo, é obrigatória a leitura da coleção Melhor da Disney: As Obras Completas de Carl Barks (editora Abril) e de A Saga do Tio Patinhas.  A coleção traz as aventuras de Patinhas idealizadas por Barks, desde a gênese do personagem, enquanto A Saga - lançada em três fascículos pela Abril-  que conta a história do pato desde sua infância pobre, na Escócia.
A Saga também ajuda a compreender melhor as manias e a personalidade de Patinhas. O próprio Barks já havia citado inúmeras histórias do passado do personagem em suas HQs, bem como feito o velho Patinhas revisitar – e descobrir novos tesouros em – cenários de aventuras que teria vivido na infância e adolescência.
A saga, porém, mostra estas aventuras, de maneira inteligente e, por vezes, até emocionante (impossível não ficar comovido com a cena no primeiro volume de quando o pato recebe a notícia da morte da mãe, por exemplo). O mais interessante da aventura, porém, é que o cartunista Keno Don Rosa (que a idealizou e desenhou) colocou na história todas as reminiscências do velho pato criadas por Barks e as costurou de maneira magistral, em ordem cronológica, em uma grande odisséia inédita. Assim, os leitores descobrem, por exemplo, como era possível Patinhas ter nascido em família pobre e ter herdado o castelo da primeira HQ publicada no Brasil.
Há também diversos momentos “históricos” - como quando o milionário ganhou a moedinha número um e a primeira aparição dos Metralhas e do rival Mac Money - e curiosidades: quer conhecer a mãe do Pato Donald, Hortência? Ela está lá, na mais tenra infância e na atribulada adolescência, exibindo o pavio-curto que se tornaria característico do filho. No segundo volume aparecem também Dumbella (a irmã de Donald e mãe de Huguinho, Zezinho e Luizinho), além da então jovem Donalda, com o marido Tomás e os três filhos - entre os quais o pai do Donald e a mãe do Gastão.
Mais ainda: descobre-se que foi o (então) futuro presidente Teddy Roosevelt que, sem querer, incutiu em Patinhas a mania de guardar moedas. TR, representado por um cachorro antropomórfico na HQ, ensina o pato que o dinheiro vale não pelo que ele compra, mas pela aventura e o trabalho que se tem para ganhá-lo.
Curiosidade: o real valor da número um. Carl Barks criou a moedinha número um, mas depois se arrependeu de transformá-la em amuleto. Afinal, se patinhas conquistou o que tem pelo trabalho e inteligência, fazer o velho pato depender da sorte supostamente gerada por uma moeda velha era um contra-senso. A solução foi dada por Don Rosa nA Saga do Tio Patinhas. Na verdade, por uma armação idealizada pelo próprio pai de patinhas, Fergus, a moeda foi o pagamento do primeiro par de botas engraxado por patinhas. Mas era uma moeda americana, ou seja, nada valia na Escócia.  O pato, então, a guardou para lembrar do trabalho que teve e de como foi enganado no pagamento, jurando que aquilo nunca mais aconteceria, e ainda a usou como inspiração para fazer fortuna em outro país.

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