Mas este senhor José Carioca não toma jeito mesmo! Há 70 anos ele foge do trabalho, bota o Nestor nas maiores frias, fila a feijoada do Pedrão, enrola na zaga do Vila Xurupita Futebol Clube e nunca sai do noivado com a pobre da Rosinha.
Ainda assim, o danado é tão gente fina e simpático que ninguém consegue brigar com ele. Ícone de brasilidade, Zé Carioca chega aos 70 anos sem perder o gingado e com boas notícias. Em comemoração à data festiva, a Editora Abril está soltando duas edições especiais com material raro e inédito.
Zé Carioca 70 Anos Volume 1 traz, pela primeira vez, todas as suas tiras de jornal produzidas ainda nos Estados Unidos entre 1942 e 44, além de uma seleção de HQs dos anos 1950 e 60, mostrando sua evolução.
Mas os fãs estão salivando mesmo é pelo Volume 2, que, entre mais HQs clássicas dos anos 1970, 80 e 90, trará histórias inéditas - as primeiras produzidas desde a extinção do Estúdio Disney Abril em 2001. E, a partir de 2013, cada edição de sua revista de linha (hoje no nº 2377) deverá trazer pelo menos uma HQ inédita.
"Neste primeiro momento, optamos por um time de Mestres Disney: Fernando Ventura, Arthur Faria Jr., Luiz Podavin e Carlos Edgard Herrero. Mais adiante, vamos buscar jovens criadores", adianta Paulo Maffia, editor dos gibis Disney.
Piadas de papagaio - E pensar que tudo começou com as piadas de papagaio. Contaram tantas ao Walt Disney, quando de sua viagem ao Brasil em 1941, que ele acabou tendo o estalo de usar a ave típica dos trópicos para representar o Brasil no seu filme Alô, Amigos, lançado no ano seguinte.
Era tudo parte do esforço de guerra conhecido como política da boa vizinhança. Temeroso de que o Brasil se engraçasse com o Eixo Nazista, o governo norte-americano pagou a Disney para vir ao Brasil, acompanhado de sua equipe, para afagar nosso ego. Deu no que deu.
No texto de apresentação do ZC 70 Anos Volume 1, assinado pelo pesquisador da Usp Celbi Pegoraro, há detalhes saborosos desses bastidores. "A aparência do papagaio, com terno, chapéu de palha e guarda-chuva teria sido espelhada num tipo boêmio e bem conhecido nas ruas do Rio dos anos 1940, o Dr. Jacarandá", escreve Celbi.
Politicamente incorreto, em algumas de suas primeiras HQs, parecia um Tom Ripley (personagem da escritora Patricia Highmith) empenado: sempre na corda bamba, improvisando saídas mirabolantes para as enrascadas em que se metia.
"Mas não acho que as características básicas dele são a malandragem e a ojeriza ao trabalho, e sim um cara que tenta sobreviver ao dia a dia sem perder o bom humor", sustenta Maffia. Com o passar das décadas, o personagem foi esquecido pelos americanos, mas não pelos brasileiros. Em 1950, lá estava ele na capa da revista Pato Donald Nº 1.
Em janeiro de 1961, Zé ganhou sua própria revista, até hoje em circulação. De lá para cá, acumulou vasta mitologia, graças a grandes artistas brasileiros como Primaggio Mantovi, Renato Canini, Jorge Kato, Ivan Saidenberg e muitos outros.
"A contribuição do Canini é enorme. Com Saidenberg, modificou os trajes e trouxe a ambientação para um contexto de maior brasilidade, com os morros, campinho de futebol e feijoada. Deu uma alma carioca para o Zé, mesmo, ironicamente, sem nunca ter vindo ao Rio de Janeiro", conta Maffia.
Nos anos 1990, modernizaram o Zé, com direito a tênis e boné virado para trás. Mas o visual não é obrigat ório. "O leitor verá diversos visuais, pois vamos republicar histórias de eras distintas", conclui Maffia.

Zé Carioca foi criado para os Estados Unidos manter boas relações com o Brasil, há 70 anos
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